domingo, 21 de janeiro de 2007

Arroz e feijão




Arroz biofortificado

Uma revolução silenciosa está acontecendo. Embaixo da terra, no centro do Brasil, crescem as sementes que podem criar um mundo mais saudável, sem doenças. Um mundo sem fome. A revolução também está sendo armada em laboratórios, estufas, galpões, centros de estudo e cozinhas. Uma revolução que vai mudar a sua vida a partir do que você come.

O Brasil é um dos dez maiores produtores de arroz do mundo. Na mesa do brasileiro não pode faltar justamente o arroz com feijão, que é uma combinação muito boa em proteínas vegetais, ferro e fibras. Mas essa nossa tradição culinária, saudável e barata, está desaparecendo. O brasileiro está consumindo cada vez menos arroz e feijão. Para reverter essa tendência, os cientistas estão trabalhando em arroz e feijão com maior valor nutritivo. E não apenas arroz e feijão, também há pesquisas sendo feitas com aipim, milho e batata-doce.

Mais de 20% do nosso povo sofre de anemia. Por falta de alimento ou porque se alimentam mal, cerca de 36 milhões de brasileiros correm mais risco de doenças. No organismo deles, falta, principalmente, vitamina A, ferro e zinco – elementos que os cientistas dizem ser possível colocar ou aumentar no milho, na mandioca, na batata-doce e, principalmente, no arroz e no feijão. Eles misturam o melhor de cada tipo de arroz e de cada tipo de feijão, fortificando o grão.

Só de feijão, existem 12 mil tipos diferentes. Arroz, são mais de 11 mil. Veja como a ciência dá uma forcinha à natureza. A experiência acontece numa estufa da Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa) em Goiás. Duas espécies diferentes de arroz vão ser cruzadas. O arroz contém tanto o elemento macho quanto o elemento fêmea. Nas pontas, está a parte masculina. Elas são cortadas.

"A gente cobre com um saquinho para não pegar pólen de outra espécie", explica um técnico.

O pólen, que fecunda a parte feminina da planta, é separado. A parte macho é posta ao lado da parte fêmea, que deve ser meio tímida, pois a paquera leva algumas horas. O técnico faz a polinização. O arroz que nascer será mais resistente e mais econômico.

Que tal pães, bolos e macarrão feitos de arroz? Isso mesmo: arroz. Primeiro, o arroz é colocado numa máquina para ser moído e virar farinha. A farinha é misturada com água, sal e emulsificante, que retém as propriedades nutritivas. A farinha pode ser enriquecida com vitamina A, zinco e ferro.

"Substituindo o trigo ou não – parcialmente ou totalmente – por um produto que teria uma condição nutricional melhor, estaríamos trabalhando com arroz biofortificado, com maior concentração de ferro e zinco. Portanto, ofereceríamos algo mais à população", diz o pesquisador da Embrapa José Luiz Viana de Carvalho.

O arroz biofortificado pode fazer muito mais do que apenas um pão melhor para a saúde. Em outra máquina, a farinha se transforma em macarrão. E dos milhares de tipos de arroz é possível fazer, por exemplo, rocamboles – doces ou salgados. Uma salada foi preparada com arroz negro.

Mas e o outro lado da dupla, o feijão?

Os superfeijões

Feijões banhados a ouro. Na Embrapa de Pelotas, no Rio Grande do Sul, eles ganham essa cobertura preciosa. Um dos metais mais caros do mundo permite que o microscópio eletrônico desvende os detalhes de cada grão. A pesquisa científica está desenvolvendo o feijão do futuro.

Equipamentos ajudam a identificar tipos diferentes de feijões. Depois, as melhores características dessas plantas são combinadas. Esse é um trabalho feito desde a década de 80, com o objetivo de ajudar os produtores rurais. Mas, há cerca de sete anos, as necessidades dos consumidores ganharam importância. Hoje, num grãozinho ampliado mil vezes, os pesquisadores buscam benefícios para a saúde de quem vai comer esses feijões.

Dietéticos, com mais fibras e mais nutrientes. Os melhoramentos permitem criar, por exemplo, feijões com quantidades extras de cálcio, para atender a necessidades específicas.

"Muitas crianças só têm acesso ao leite, por exemplo, na fase de amamentação. Mas se o feijão pode suprir algumas necessidades de cálcio, está garantida, então, a suplementação dessa população", diz a professora Nerinéia Ribeiro, da Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul.

São os superfeijões, que vão ajudar até a prevenir doenças.

"Nós vamos ter um feijão que pode diminuir a chance de a pessoa ficar mais gorda e que vai beneficiar, por exemplo, quem não pode ingerir açúcar, como os diabéticos. Então, esse feijão vai contribuir para isso também. Vamos ter um feijão que vai diminuir a chance de aumentar o colesterol no sangue. De repente, vamos ter feijões destinados a diferentes tipos de uso", revela o engenheiro agrônomo Irajá Ferreira Antunes.

Tudo para reconquistar o paladar do brasileiro. É que dos anos 70 para cá, o consumo do feijão caiu 31%. Com tanta variedade, será que o feijão ainda tem vez?

"Não, nem passa na minha cabeça", diz um jovem.

"Eu não gosto", conta um menino.



Fonte: Globo Repórter - 19/01/2007